o rei e o bufão

quinta-feira, 19 de setembro de 2013
- Ha ha ha ha!
o pançudo rei esquece
e gargalha animadamente

feita a troça, 
o bufão (bobo da corte), 
meio vesgo, meio manco, 
meio feio, 
meio preto, meio rosa, 
meio branco,

lança meio sorriso,
- cúmplice - 
da onipotente 
imbecilidade alheia

e o rei ri,
ri!
quase chora de rir.

e esquece
que as mazelas expostas,
a galhofa,
são nada menos que o ridículo de si.

"o poder está nas mãos dos tolos"
encerra, sério, o bobo

e o rei, 
do alto do sóbrio trono, 

apenas e simplesmente 
ri!

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Obra: "The voices of the spirit." Monica Zúñiga
Obra: Atribuído a  Maître de 1537.
nota da autora: para manter o nível artístico das imagens, desisti da ideia de colocar uma foto dos estimados ministros do STF, ou de alguns "senhores" (reis) sob julgamento recente, de nosso país. já basta ter que acompanhar todo o espetáculo circense pelas mídias convencionais. assim, ficam de brinde, ilustrações do bobo da corte e da "loucura contemporânea" e colorida - mais como autorretrato em tom de esperança (em quê? ainda não sei, não consigo rir).





velò-veloz ou bicicletar

quarta-feira, 11 de setembro de 2013
Obra: Da galeria de Oleg Tchoubakov
Obra: Da galeria de Oleg Tchoubakov
graciosa adaga,
corta caminhos
e dança na estrada,
veloz.

canta comigo quando vejo cores no céu!

carros passam,
faróis,

e se vão,
assim como nós.

manhãzinha,
ou
madrugada,
silente e em paz,
me acompanha, 
e vem...
tecendo tênues espirais
em rotações quebrando o vento

asfalto gelado
neblina que cerra
e estamos ali
unidas em pacto, no impacto
de outra pedalada.

rostos estranhos
tornam-se névoa,
parceiros da busca
de um novo destino

- veja lá;
- veja a lua;
 - veja vênus;

- veja a dona, que, com pressa,
atravessa, sem notar que aquela
foi um dia uma rua sua...

flores, aves,
- fumaça - 
fios, pedras,
- vitrines - 
folhas, sombras, 
- semáforos - 
água, sol,
- ruído - 
chuva, orvalho,
- motores - 

não me sinto só
neste mundo estranho,
rodo sobre as rodas
como fossem sonhos...


a cidade é nossa!


Paradoxo do deixar

quinta-feira, 5 de setembro de 2013


some a nossa cor hoje do céu, meu bem
Obra: Dia de Outono  - Isaac Levitan
voa a primavera em nosso corpo
e floresce o que restou da alma

gavetas cheias de segredos
anseiam o despertar da manhã

"você nunca andará sozinho..."
- dizem eles:
os ramos, 
as folhas,
as aves,
a música e o beijo.

sussurros:
hora de partir,
deixar-se andar

não se despeça
perda não há
já que nunca
nada é permanente,
nada é possuído.