segunda-feira, 3 de agosto de 2009
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pequenas estórias
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Mais uma noite e mais um pub.
Se o nome dela fosse Carolina, Clarice, Cleópatra, ninguém estranharia os seus olhos chuvosos, meio embaçados e sem cor alguma. Mas Adama tinha em sua boca aquilo que lhe cunhava o nome: lábios de fêmea voluptuosa, noturnos e meio salgados, algo sem muitos adjetivos para descrever.
Homens e mulheres, dos profundos ou intelectuais, aos sujeitos comuns e vãos, dos artistas aos burocratas, dos adolescentes aos anciãos, rara era a exceção, todos desejavam encostar em Adama, ouvir qualquer palavra sua, e o anseio era sentir a língua, o lábio, o gosto daquela sua boca.
Adama saía todas as noites, sem querer e sem dar conta dos dias ligeiros. Distraía-se. E era mais uma segunda-feira que passava, ou chegava a sexta, tudo o mesmo sabor de noite.
Encontrava-se numa taberna naquela quarta, e nas duas horas por ali, a conversa já versara sobre política, sexo, os presságios de novos tremores de terra, a música das massas jovens que se proliferava como os vermes, a crise econômica, e sobre a queda na qualidade da massa da cantina da Mama. Nada disso sem um vinho barato pra acompanhar e efervescer os ânimos.
Adama falava pouco e ouvia de tudo, quase sem se pronunciar. Ficava nas rodas, bebia também, e imaginava serem aqueles homens todos uns porcos, vociferando seus brados e cuspindo as falas em cima um dos outros. Nem por isso os detestava, nem sentia repulsa, seu prazer monótono era justamente estar junto àqueles porcos.
Fora Adama, as mulheres que freqüentavam a taberna eram poucas: havia a esposa de Antonino – que algumas vezes ia buscá-lo a rodo ou vassouradas – e uma ou outra garota nova que rondava quem estava com dinheiro para uma rápida trepada e uns “trocados em troca”.
Apesar do tédio dos assuntos rotineiros e repetitivos, e mesmo do desprazer em ver as mesmas caras, ouvir os mesmos ganidos, Adama continuava indo à taberna pelo menos três vezes por semana, naquela sua semana de dias iguais. O motivo era justamente esse: a rotina igual, habituara-se e ia.
Aconteceu o inusitado e, numa quarta-feira dessas, altas horas já, quase seis, os olhos parados de Adama tiveram um sobressalto.
Evidentemente, se o nome dela fosse Cistina, Clarice ou Cleópatra, o motivo da surpresa seria um homem atraente invadindo a taberna e ocupando cada centímetro cúbico do ar que ali se respirava. Mas, por se tratar de Adama, o fato era algo menos pretensioso, e os seus olhos tomaram pela primeira vez uma ponta de brilho quando ali entrou Sísmico – um garoto pequeno, seis anos de idade – chamando pela mãe, uma daquelas garotas ali à espera de um programa pródigo.
O que Adama ocultava nos seus ares de tédio e de solene distanciamento habituais nascia naquele encontro: toda a sua atenção cega era para o menino que coroava aquela sua madrugada.
Não fosse isso, talvez Adama se houvesse chamado Clara, Cleonice, Carolina e pouco importaria, pois seria mais uma das iguais e infelizes mulheres que cruzam noite e dia sem notar sequer sua própria presença.
Se o nome dela fosse Carolina, Clarice, Cleópatra, ninguém estranharia os seus olhos chuvosos, meio embaçados e sem cor alguma. Mas Adama tinha em sua boca aquilo que lhe cunhava o nome: lábios de fêmea voluptuosa, noturnos e meio salgados, algo sem muitos adjetivos para descrever.
Homens e mulheres, dos profundos ou intelectuais, aos sujeitos comuns e vãos, dos artistas aos burocratas, dos adolescentes aos anciãos, rara era a exceção, todos desejavam encostar em Adama, ouvir qualquer palavra sua, e o anseio era sentir a língua, o lábio, o gosto daquela sua boca.
Adama saía todas as noites, sem querer e sem dar conta dos dias ligeiros. Distraía-se. E era mais uma segunda-feira que passava, ou chegava a sexta, tudo o mesmo sabor de noite.
Encontrava-se numa taberna naquela quarta, e nas duas horas por ali, a conversa já versara sobre política, sexo, os presságios de novos tremores de terra, a música das massas jovens que se proliferava como os vermes, a crise econômica, e sobre a queda na qualidade da massa da cantina da Mama. Nada disso sem um vinho barato pra acompanhar e efervescer os ânimos.
Adama falava pouco e ouvia de tudo, quase sem se pronunciar. Ficava nas rodas, bebia também, e imaginava serem aqueles homens todos uns porcos, vociferando seus brados e cuspindo as falas em cima um dos outros. Nem por isso os detestava, nem sentia repulsa, seu prazer monótono era justamente estar junto àqueles porcos.
Fora Adama, as mulheres que freqüentavam a taberna eram poucas: havia a esposa de Antonino – que algumas vezes ia buscá-lo a rodo ou vassouradas – e uma ou outra garota nova que rondava quem estava com dinheiro para uma rápida trepada e uns “trocados em troca”.
Apesar do tédio dos assuntos rotineiros e repetitivos, e mesmo do desprazer em ver as mesmas caras, ouvir os mesmos ganidos, Adama continuava indo à taberna pelo menos três vezes por semana, naquela sua semana de dias iguais. O motivo era justamente esse: a rotina igual, habituara-se e ia.
Aconteceu o inusitado e, numa quarta-feira dessas, altas horas já, quase seis, os olhos parados de Adama tiveram um sobressalto.
Evidentemente, se o nome dela fosse Cistina, Clarice ou Cleópatra, o motivo da surpresa seria um homem atraente invadindo a taberna e ocupando cada centímetro cúbico do ar que ali se respirava. Mas, por se tratar de Adama, o fato era algo menos pretensioso, e os seus olhos tomaram pela primeira vez uma ponta de brilho quando ali entrou Sísmico – um garoto pequeno, seis anos de idade – chamando pela mãe, uma daquelas garotas ali à espera de um programa pródigo.
O que Adama ocultava nos seus ares de tédio e de solene distanciamento habituais nascia naquele encontro: toda a sua atenção cega era para o menino que coroava aquela sua madrugada.
Não fosse isso, talvez Adama se houvesse chamado Clara, Cleonice, Carolina e pouco importaria, pois seria mais uma das iguais e infelizes mulheres que cruzam noite e dia sem notar sequer sua própria presença.